segunda-feira, 8 de junho de 2009

Fases do Jornalismo


Jornalismo de serviços

Erick Paytl

Apesar de já ter surgido no oriente, foi na Europa que a imprensa consolidou seu objetivo apenas vinculado com a impressão. Dentro do século 15, em meio a um período de transição do sistema feudal para o capitalista, surgia um tipo de jornalismo voltado para a prestação de serviços públicos diversos e que não tinha um número muito grande e publicações. Ele não era distribuído para a massa populacional – não tinha um excedente de cópias para estarem disponíveis para toda a população -, suas publicações eram encontradas em lugares de grandes movimentações como feiras e praças. Esse jornalismo que prestava serviço a população era chamado de jornalismo de serviços e surgiu numa época de grandes transformações na sociedade: a população aumentava, o comércio tornava-se mais complexo e um número crescente de pessoas começavam a se dedicar à escrita e a numeração para adquirirem conhecimento para aplicação comercial. O jornalismo de serviços passou, então, a exercer várias funções, entre elas a de informar a população sobre recentes acontecimentos, orientar reis sobre como administrar seus reinados e guiar os comerciantes em suas relações mercadológicas. O jornalismo sempre caminhou junto com o capitalismo, ou seja, ao passo que o capitalismo se desenvolvia, a necessidade por informar tornava-se cada vez maior. No século 15, o comércio estava numa grande fase de desenvolvimento, um comerciante precisava ter informações sobre as flutuações do mercado para que o seu negócio não se tornasse ultrapassado e sobrevivesse.
Apesar de o jornalismo ser escrito e os letrados da época serem compostos em sua maioria pela elite, não se pode dizer que o jornalismo de serviço era elitista, pois se por um lado os letrados conseguiam informações através da escrita, os não-letrados conseguiam se informar através da oralidade. Vale ressaltar ainda que, na época, havia censura por parte das classes dominantes que muitas vezes manipulavam as publicações causando problemas para a divulgação da imprensa. O jornalismo não surgiu numa sociedade democrática, mas num regime absolutista em que tudo que era escrito tinha intensa influência religiosa, influência essa que ainda iria decair junto com o absolutismo. Logo, o jornalismo demoraria a surgir através de seu veículo principal – o jornal.




Jornalismo de idéias (ou jornalismo libertário)

Pode-se dizer que a Revolução Francesa e a independência dos EUA talvez não teriam acontecido sem a imprensa. Para entender o quanto a imprensa foi importante no século XVIII, é preciso entender antes o contexto daquele momento tão efervescente.
Antigamente, havia a ideia de que tudo que acontecia na vida das pessoas ocorria naturalmente ou por decisão de Deus. Se uma criança nascia pobre, isso acontecia por causa natural ou por vontade de Deus, logo, sua posição social no mundo era inquestionável e inevitável. Após as descobertas científicas da época de Galileu, que contrariavam as teorias religiosas, muitos filósofos na Europa passaram a construir ideais através do uso da razão, estudando o homem como centro do universo que pudesse causar transformações em seu próprio destino. Esses filósofos foram personagens do movimento intelectual conhecido como Iluminismo e foram os pensamentos desse movimento que levaram os franceses, inconformados e sufocados pelas injustiças e desigualdades, a realizarem uma revolução em 1789. Mas como os ideais iluministas se disseminaram por toda a população francesa na época de pré-revolução?
Acontece que foram os jornais que difundiram esses ideais fornecendo conhecimento ao povo que então decidiu causar a revolução.
Na França, a vida dos pobres era revoltante: eles tinham fome; trabalhavam arduamente e pagavam impostos que só eles tinham que pagar. Foi nesse período que se ergueu um tipo de jornalismo que brigava pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Um jornalismo libertário, cheio de traços opinativos e argumentativos que defendiam a ideia de revolução. As divulgações dos jornais não só se limitaram ao continente europeu, mas os pensamentos iluministas também alcançaram o novo mundo, onde aconteceria a Revolução Norte-americana em 1776 e a independência do Brasil, em 1822.
No caso do Brasil, a imprensa de opinião começou com a vinda da corte portuguesa e tinha como objetivo inicial educar o povo. Os jornais tratavam-se de temas políticos e, durante o período da independência, o debate político teve maior vigor com a participação tanto de jornais que apoiavam o rei quanto aqueles que eram politicamente independentes e republicanos como o Revérbero e o Sentinelas, respectivamente. Vale ressaltar que, naquela época, era comum os intelectuais saírem do Brasil para estudar na Europa que vivia o momento de divulgação das idéias iluministas. Assim, quando os intelectuais voltavam ao Brasil, traziam conhecimentos do movimento fornecendo mais rigor a idéia de independência no Brasil. Mais tarde, após a independência, os argumentos dos jornais se voltariam para o movimento abolicionista.



Jornalismo moderno ou mercadoria

“A revolução comercial fomentou simultaneamente o trânsito de mercadorias e o trânsito de informações na medida em que progressivamente a própria informação virou mercadoria. [...] A ascensão da burguesia na esteira da expansão do capitalismo comercial colocou novos problemas de governo para as autoridades, que rápido descobriram na imprensa nascente um meio de controlar a opinião e exercer o poder”. (HABERMAS citado por Frosi; Bertol, 2004)
O cenário onde o jornalismo moderno surge é marcado pelo crescimento urbano onde a alfabetização das pessoas está mais fortalecida e o comportamento das pessoas voltado para a sede de consumismo oriunda da revolução capitalista.
No século XIX, surge uma indústria cultural onde a cultura é transformada em mercadoria e a mercadoria em cultura. É um período em que já existem grandes impérios de comunicação que fazem transitar informações de vários gêneros formando fluxos informativos que alcançam grandes proporções. As notícias vão desde aquelas que contem interesse público até comentários de leitores. Há também uma forte presença da publicidade no jornalismo como fonte de rendimento para as empresas jornalísticas.
Os jornais do século XIX tornam-se um campo para a sociedade discursar e formar a opinião pública num momento em que a comunicação passa a ser uma fonte de poder. A imprensa passa por um enorme avanço e se torna um grande negócio. Surgem as figuras do repórter e do assessor de imprensa e passa-se a ser introduzidas escalas de salário. O jornalismo moderno dá valor as grandes reportagens, ao uso de imagens e de estilos gráficos como a cor e o design.



O novo jornalismo

O novo jornalismo é um gênero que surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 tendo como principais participantes Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Mailer e Truman Capote.
Esse gênero “consistiria em tornar possível um jornalismo que... fosse igual a um romance" (Wolfe, 1976, p.18). O intuito era de haver uma fusão entre literatura e jornalismo, caracterizada pelo uso de técnicas literárias na captação, redação e edição de reportagens.

Estudando o contexto histórico, na época, os grandes jornais estavam tendo uma queda gradual em suas vendas devido à concorrência com a emergente televisão. Segundo Mendes (2000), “é curioso constatar que, face à força do discurso televisivo, a imprensa tenha sentido necessidade de regressar a um convívio mais íntimo com a literatura, aproximando-se, novamente, do jornalismo praticado no século XIX e início do século XX. A causa desse retorno seria a proximidade de significação dos conceitos ‘liberdade de imprensa’ e ‘liberdade de opinião’, com a qual se justificou a procura de ‘novas dramatizações da narrativa noticiosa’[...]”.

Tom Wolfe enumera quatro procedimentos literários aplicados no New Journalism que tornariam o texto jornalístico mais apaixonante: a descrição minuciosa da cena em que acontece uma situação, o uso de diálogos (discurso direto), o ponto de vista na terceira pessoa (que dá a sensação de o leitor estar presente na cena onde ocorrem os fatos) e os símbolos de status (descrição de gestos, hábitos e outras particularidades dos personagens). O novo jornalismo trabalhava com grandes reportagens e isso, naturalmente, exigia um trabalho de coleta de dados muito mais intenso, detalhado e, por conseguinte, demorado. Os jornalistas deste gênero chegavam a passar dias - ou semanas - com as pessoas sobre as quais escreviam. As reportagens do novo jornalismo continham um estilo mais imaginativo e lírico permitindo, inclusive, que o jornalista se inserisse na narrativa desde que não alterasse a realidade da notícia sobre a qual trabalhava. É marcante, no New Journalism, o uso de figuras de pontuação pouco convencionais no jornalismo, como reticências, exclamações, interjeições e onomatopéias.
Para Wolfe, o mais interessante não era a sensação de ter feito algo novo em jornalismo, mas sim a descoberta de que era possível fazer descrições muito fiéis da realidade usando técnicas habitualmente utilizadas no conto e no romance. Gay Talese disse numa entrevista para o jornal do Brasil: “New journalism [...] é um texto literário que não é inventado, não é ficção, mas que é narrado como um conto, como uma seqüência de filme. É como um enredo dramático digno de ser levado aos palcos e não apenas um amontoado de fatos, fácil de ser digerido” (2000).

No Brasil, em 1966, a revista Realidade e o Jornal da Tarde (JT) surgem como características do New Journalism. Aqui o gênero contou com a participação de Marcos Faerman, Fernando Portela, Cláudio Bojunga e José Hamilton Ribeiro. Na literatura brasileira, Euclides da Cunha, - com a obra Os Sertões - e Graciliano Ramos continham os tipos de relatos ideais procurados pelo novo jornalismo. Apesar de tudo, o gênero viveu por pouco tempo no Brasil devido principalmente a ausência de uma tradição de leitura de jornais e periódicos no país e também devido às novas relações de trabalho nas redações, que exigiam uma equipe cada vez mais enxuta e que fizesse seus trabalhos mais rápidos.

Fontes:
http://criticaecompanhia.com/allan.htm
http://www.qualquer.org/gonzo/monogonzo/monogonzo05.html/
http://publifolha.folha.com.br/catalogo/images/cover-135915-600.jpg
http://spotters.files.wordpress.com/2009/01/jornalismo.jpg
http://sampaioloki.files.wordpress.com/2008/08/jornalismo.jpg
http://www.meionorte.com/imagens/COL387As-Modernas-Tecnologias-na-Midia.jpg

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